Vargas, António Pinho
(n. Vila Nova de Gaia, 1951)

Inquietação é uma das palavras que melhor sintetizam a personalidade artística de António Pinho Vargas, um músico integral que tem tem abordado com igual sucesso a composição livre de preconceitos de escola e os mais diversos géneros musicais, a interpretação e o ensaio musical, a pedagogia e a gestão cultural.

A sua música e o seu posicionamento estético têm contribuído para uma mudança radical no panorama musical nacional nas últimas décadas, tendo sido a sua influência determinante na aceitação em Portugal do pluralismo no âmbito da composição erudita.

Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, concluiu o curso de composição no Conservatório de Roterdão, na classe de Klaas de Vries. É professor na Escola Superior de Música de Lisboa desde 1991 e tem compaginado os seus labores docentes com a assessoria musical na Fundação Serralves e do Centro Cultural de Belém, instituição com a qual colabora actualmente. É ainda co-fundador e co-director artístico da OrchestrUtopica.

Ligado ao jazz durante vários anos e sendo unanimente considerado um dos mais importantes músicos portugueses neste domínio, começou o seu percurso criativo no âmbito da composição erudita em fins dos anos 80.

As obras compostas até 1993 revelam a aderência à técnicas de composição mais rigorosas, ligadas à vanguarda musical posterior à Segunda Guerra Mundial. Porém, nesse ano, a composição de “Monodia. Quasi un Requiem” marca um primeiro ponto de viragem na sua obra, que monstra a partir de então uma liberdade na escolha de materiais e de linguagens pouco habitual na música portuguesa contemporânea.

À clareza estrutural das suas obras une-se a exploração exaustiva de novas abordagens de aspectos característicos do estilo tonal (por exemplo, a pulsação regular em obras como “Estudos e Interlúdios”, para percussão, escrita em 2000).

A sua obra em conjunto revela ainda uma rara capacidade para evocar e desenvolver em termos sonoros imagens poéticas, por vezes referidas nos títulos das suas peças.

Tem-se destacado como compositor de obras vocais de grande formato: as óperas “Édipo Tragédia do Saber” (1996) e “Os Dias Levantados” (1998), respectivamente sobre textos de Pedro Paixão e de Manuel Gusmão, e a oratória “Judas” (2002).

Entre os seus próximos projectos, destaca-se a primeira audição absoluta, na próxima quinta feira, de “…von fremden ländler…”, para piano solo e orquestra, obra encomendada pelo Festival Internacional de Música de Coimbra.

TERESA CASCUDO