Cristina Fernandes, in Público
“Estudos e Interlúdios”, de António Pinho Vargas, marcou de forma auspiciosa o início da apresentação de encomendas do Festival Música em Novembro, na passada quarta-feira, no Teatro Camões, em Lisboa.
Coube ao agrupamento Drumming, sob a direcção de Miguel Bernat, estrear a peça de Pinho Vargas, inserindo-a num programa dedicado à música ibérica para percussão, onde se ouviram também “Saturno”, de Luiz de Pablo, “Cálculo Secreto”, de López-López (em vez da anunciada estreia absoluta de “Luna Nueva”, de Jesus Rueda) e “Estancias”, também de Jesus Rueda. Mas foi a obra portuguesa a mais marcante da noite, cativando de imediato pela sua sensualidade sonora, transparência, fluidez e equilíbrio formal, assim como pela atitude mais compenetrada dos intérpretes. Três Estudos, que privilegiam os instrumentos da família das marimbas e dos vibrafones e a clareza da pulsação regular – olhada de lado por muitos cultores da música contemporânea – contrastam com a atmosfera dos Três Interlúdios, onde as figurações rítmicas são dilatadas pelas mágicas ressonâncias dos gongs e dos tam-tams. Abordar a pulsação regular, sem cair na banalidade, é um arriscado desafio. Pinho Vargas superou a dificuldade airosamente, não obstante a insistência um pouco excessiva nas mesmas figurações (ainda que esta seja uma particularidade implícita no género “Estudo”), patenteando uma sensibilidade expressiva muito pessoal, comum a algumas das suas obras mais conseguidas, como é o caso de “Monodia”.