(…) A noite final do 3º Jazz Europeu no Porto valeu pelo concerto do quinteto de António Pinho Vargas que, mais uma vez, justificou no palco o título do mais coeso e personalizado grupo português. APV é o único ‘autor’ do jazz nacional. E no dia em que se começar a fazer a recolha dos ‘standards’ do ‘nosso’ jazz, temas como ‘Pas Mal’ entrarão directamente para os primeiros lugares.
O alinhamento do concerto privilegiou algumas das pautas mais conhecidas do pianista (‘Jogos com 12 Sons’, ‘Pas Mal’, ‘Fado Negro’ e ‘Ornette’, este numa versão pouco feliz), a que se juntou, em estreia, uma pequena catarse musical dedicada a um tal ‘Herr Sigmund’, com consultório aberto em Viena. O lirismo milesiano de Paolo Fresu e a sua sensibilidade tímbrica brilharam em ‘Pas Mal’, tema igualmente iluminado pela dimensão vocal do contrabaixo de Carlos Bica; José Nogueira somou à leveza inconfundível do seu fraseado uma (nova?) robustez sonora em ‘Herr Sigmund’, um tema marcado pelo piano jarretteano de Pinho Vargas e pela estética contrapontista de Nogueira e Fresu. A bateria de Mário Barreiros (muito mais interveniente, no tempo e no modo justos, do que véspera com Carlos Martins) sublinhou a empatia do ‘núcleo’ veterano do quinteto (Vargas/Nogueira/Barreiros). Um quinteto que se tornou o instrumento perfeito da glorificação do ‘songbook’ de António Pinho Vargas.(…)
António Curvelo, in Público