Magniticat a duas vozes de Pinho Vargas, por Bernardo Mariano, DN, 15-10-13
O Grande Auditório da Culturgest recebeu no sábado a segunda execução do novíssimo Magnificat de António Pinho Vargas, estreado na véspera, aniversário da instituição. Cesário Costa dirigiu a Orquestra Metropolitana e o Coro Gulbenkian. A audição deixou-me vívida impressão: é uma obra forte e interpelante, curiosa e surpreendente. Apresenta-se como um bloco bastante compacto, já que o material musical, além de concentrado, é submetido a recorrências, reminiscências, variantes, reelaborações. A obra está judiciosamente orquestrada e a escrita coral privilegia a clareza da diccção. Mas ambas encerram em si mesmas a sua própria contradicção, já que são o dúplice vértice da expressão pessoal do compositor no seu confronto com o texto estabelecido. E esta acaba por ser a característica, não só definidora como a mais tocante da obra: o modo como o discurso orquestral e a escrita coral se assumem ab initio como sismógrafos da sensibilidade de Pinho Vargas ao que é cantado da sua maior/menor capacidade de se rever, se aproximar, de esperar de… crer. A densidade semântica daí recorrente gera uma dialéctica que remete para um assimilação pessoal do conceito adorniano de “música informal”.[…]