Bernardo Mariano. in DNMais
No ano em que se comemoram 30 anos sobre a Revolução de 25 de Abril, é uma óptima notícia saber que foi editada em disco a obra que mais directamente lida com esse acontecimento que tão profundamente transformou o país: a ópera Os Dias Levanatdos, de António Pinho Vargas, sobre um libreto de Manuel Gusmão.
Segunda experiência dramática do autor (depois de Édipo, Tragédia do Saber), Os Dias Levantados surgiu de uma idéia de António Mega Ferreira de uma obra dramática sobre a Revolução que coincidisse como o “espírito-Expo-98”. A obra viria a estrear no dia 25 de Abril de 1998, no Teatro Nacional de São Carlos (a presente edição recupera parcialmente textos e integralmente as fotografias dessa produção – também a ficha técnica é incluída no livrete) e viria a ser reposta, mas em versão de concerto, no Grande Auditório da Culturgest, a 6 de Março de 2002, no âmbito dum ciclo de concertos onde foi apresentada a obra integral do compositor. E é a gravação dessa récita de há dois anos que constitui a matéria sonora deste disco duplo com a chancela da EMI Classics.
Trata-se de uma edição cuidada ao nível da qualidade sonora, do grafismo e da qualidade do livrete, este com vários textos de apoio e com o libreto bilingue português/inglês. Tudo, portanto, a postos para uma distribuição internacional que David Ferreira, responsável da EMI, diz estar a ser estruturada, mas que ainda é prematuro confirmar.
Em termos de intérpretes, rememoremos: Coro do São Carlos e Orquestra Sinfónica Portuguesa dirigidos por João Paulo Santos (é um dos grandes trabalhos de direcção deste maestro!) e um corpo de solistas composto por Ana Ester Neves, Ana Paula Russo, Elvira Ferreira, Jorge Vaz de Carvalho, Carlos Guilherme, Luís Rodrigues, Paulo Ferreira e Nicolau Domingues – enfim, a tal geração de cantores portugueses tão pouco gravada de que falava Pinho Vargas (ver DN de 14/2) e que aqui encontra, porventura, o registo fonográfico mais significativo das suas carreiras.
O libreto de Manuel Gusmão é um óptimo “chão” para a música de Pinho Vargas. O seu carácter compósito, misturando registos dramáticos e literários vários, o concreto e o abstracto, sobrevoando o tempo histórico e o cronológico, incluindo o “Anjo da História” que abre e fecha a ópera e o “personagem” Walter Benjamin como consciência privilegiada da filosofia e sentido da história, dos homens e das suas convulsões, enfim, uma matéria literária de grande versatilidade e plasticidade que vai colar com rara correrpondência no material musical criado por Pinho Vargas.
A música deste é, também ela, de uma grande variedade em todos os sentidos (melódico, motívico, base harmónica, combinações instrumentais, exploração tímbrica e, notavelmente, na exploração das forças corais e na vocalidade de coralistas e solistas, estes contando ainda com uma interpolação, fusão, entrelaçamento de vários registos de produção vocal, do canto puro ao recto tono, do sprechgesang ao simples declamado ou ao recitar cantando, como se também musicalmente um anjo da história tivesse presidido a este acto composicional de plena maturidade do compositor.
Em termos de funcionalidade dramática, a história não é um contínuo de peripécia-clímax-desenlace, mas uma sucessão de episódios de diferente força dramática – esta conseguida de diversos meios, sejam eles violentos, sejam eles líricos, sejam espalhafatosos, sejam apenas suros e/ou sugeridos – , que cobrem a totalidade dos acontecimentos que fizeram a história deste período, desde a guerra colonial e torturas políticas até à sublimação da Revolução no golpe do 25 de Novembro de 1975, passando por temáticas tão diversas como a reforma agrária, a condição feminina, as nacionalizações ou o drama (e a saudade) dos retornados de África.
Retomo o que dizia no 1º parágrafo: “acontecimento que tão profundamente transformou o país”. Sim, os acontecimentos, as transformações e a sua profundidade, todas foram tocadas pelo texto de Gusmão e pela música de Pinho Vargas – na “mouche”!
Segunda experiência dramática do autor (depois de Édipo, Tragédia do Saber), Os Dias Levantados surgiu de uma idéia de António Mega Ferreira de uma obra dramática sobre a Revolução que coincidisse como o “espírito-Expo-98”. A obra viria a estrear no dia 25 de Abril de 1998, no Teatro Nacional de São Carlos (a presente edição recupera parcialmente textos e integralmente as fotografias dessa produção – também a ficha técnica é incluída no livrete) e viria a ser reposta, mas em versão de concerto, no Grande Auditório da Culturgest, a 6 de Março de 2002, no âmbito dum ciclo de concertos onde foi apresentada a obra integral do compositor. E é a gravação dessa récita de há dois anos que constitui a matéria sonora deste disco duplo com a chancela da EMI Classics.
Trata-se de uma edição cuidada ao nível da qualidade sonora, do grafismo e da qualidade do livrete, este com vários textos de apoio e com o libreto bilingue português/inglês. Tudo, portanto, a postos para uma distribuição internacional que David Ferreira, responsável da EMI, diz estar a ser estruturada, mas que ainda é prematuro confirmar.
Em termos de intérpretes, rememoremos: Coro do São Carlos e Orquestra Sinfónica Portuguesa dirigidos por João Paulo Santos (é um dos grandes trabalhos de direcção deste maestro!) e um corpo de solistas composto por Ana Ester Neves, Ana Paula Russo, Elvira Ferreira, Jorge Vaz de Carvalho, Carlos Guilherme, Luís Rodrigues, Paulo Ferreira e Nicolau Domingues – enfim, a tal geração de cantores portugueses tão pouco gravada de que falava Pinho Vargas (ver DN de 14/2) e que aqui encontra, porventura, o registo fonográfico mais significativo das suas carreiras.
O libreto de Manuel Gusmão é um óptimo “chão” para a música de Pinho Vargas. O seu carácter compósito, misturando registos dramáticos e literários vários, o concreto e o abstracto, sobrevoando o tempo histórico e o cronológico, incluindo o “Anjo da História” que abre e fecha a ópera e o “personagem” Walter Benjamin como consciência privilegiada da filosofia e sentido da história, dos homens e das suas convulsões, enfim, uma matéria literária de grande versatilidade e plasticidade que vai colar com rara correrpondência no material musical criado por Pinho Vargas.
A música deste é, também ela, de uma grande variedade em todos os sentidos (melódico, motívico, base harmónica, combinações instrumentais, exploração tímbrica e, notavelmente, na exploração das forças corais e na vocalidade de coralistas e solistas, estes contando ainda com uma interpolação, fusão, entrelaçamento de vários registos de produção vocal, do canto puro ao recto tono, do sprechgesang ao simples declamado ou ao recitar cantando, como se também musicalmente um anjo da história tivesse presidido a este acto composicional de plena maturidade do compositor.
Em termos de funcionalidade dramática, a história não é um contínuo de peripécia-clímax-desenlace, mas uma sucessão de episódios de diferente força dramática – esta conseguida de diversos meios, sejam eles violentos, sejam eles líricos, sejam espalhafatosos, sejam apenas suros e/ou sugeridos – , que cobrem a totalidade dos acontecimentos que fizeram a história deste período, desde a guerra colonial e torturas políticas até à sublimação da Revolução no golpe do 25 de Novembro de 1975, passando por temáticas tão diversas como a reforma agrária, a condição feminina, as nacionalizações ou o drama (e a saudade) dos retornados de África.
Retomo o que dizia no 1º parágrafo: “acontecimento que tão profundamente transformou o país”. Sim, os acontecimentos, as transformações e a sua profundidade, todas foram tocadas pelo texto de Gusmão e pela música de Pinho Vargas – na “mouche”!