Viriato Teles, in O Jornal
Que António Pinho Vargas é um dos músicos portugueses mais sérios e competentes, creio que ninguém tem dúvidas. O seu percurso pelas tumultuosas águas do jazz ‘made in Portugal’ é bem a prova disso e as surpresas (se as houve) foram-no apenas para os ouvidos mais desatentos. A verdade é que Pinho Vargas tem conseguido como mais ninguém unir a tradição jazzística aos sons e sentimentos da cultura a que pertence, criando um som que, sendo universal, não deixa de ser profundamente lusitano. Bastaria ouvir ‘Vilas Morenas’, por exemplo, para entender que a música de APV só poderia ser criada e tocada em português.
Este ‘Selos e Borboletas’ surge no mercado em simultâneo com as soberbas apresentações públicas de Pinho nos Coliseus de Lisboa e do Porto. Mais uma grande colectânea de temas de um compositor de primeira água? Claro que sim. Mas, principalmente, o resultado de um percurso feito com muita honestidade, vinte anos e cinco discos a marcar uma página de ouro da música que se faz em Portugal. Porque os sentimentos nunca se repetem (e António Pinho Vargas tem consciência disso) este disco terá de ser ouvido uma, duas, muitas vezes. Na certeza de que o resultado de cada audição será sempre diferente. E esse é, sem dúvida, o maior dos seus encantos.’