com uma herança vanguardista da criação musical ocidental, o que,
aliás, o compositor refere num curioso texto que acompanha o disco. A
sua criação socorre-se, por assim dizer, de um qualquer evento histórico
(musical ou não), constituindo-se espelho da reflexão que se produz da
análise de um qualquer objecto ou ideia e do seu relacionamento com o
contexto em que se insere.
Mas isto são coisas do passado, revistas
neste registo em Poetica dell`Estinzione, Mirrors e também na peça para
clarinete. Mais recentemente, Pinho Vargas segue um percurso bastante
diferente. O que chama de “reconquista progressiva de elementos da
linguagem musical que conhecia mas não utilizava na escrita por razões
ideológicas”. Trata-se de uma perspectiva que permite olhar a composição
de uma obra como um gesto isolado, emancipado de qualquer corrente
estética. A obra justifica-se a si própria, bem como a intenção do
compositor.
Repõe-se, afinal, a importância do elemento expressivo
como principal meio de constituição de significado musical, ganhando as
obras por vezes um contorno lírico e um tom de espontaneidade
surpreendentes, bem perceptíveis em Monodia ou nos Três Quadros para
Almada. A palavra de ordem não é “inovar”; antes “experimentar de novo”.