1. Manuel Falcão, Jornal de Negócios, 6-11-2009
2. Rui Branco, Jornal de Notícias, 6-11-2009

OUVIR
No ano passado António Pinho Vargas editou a primeira série de “Solo”, com composições suas, registadas em sessões de gravação no CCB. Este ano o resto das gravações não editadas e mais umas quantas novas surgem em “Solo II”, que consegue ser mais interessante e estimulante que o disco inaugural da série. A maioria das composições continua a ser de António Pinho Vargas, mas há duas versões notáveis “Que Amor Não Me Engana” de José Afonso e “The Times They Are A Changing” de Bob Dylan. Eu, que gosto de discos de piano solo, tenho ficado rendido a este “Solo II”, feito à revelia de toda a lógica editorial tradicional e só possível pela dedicação do músico e pela teimosia e perseverança de David Ferreira e das suas Investidas Editoriais – assim se chama a editora que colocou no mercado este belo disco.

Manuel Falcão, A esquina do rio, Jornal de Negócios, 6-11-2009

Visitar o passado para enriquecê-lo

António Pinho Vargas edita agora o segundo tema das suas gravações em piano solo, realizadas em Dezembro do ano passado e completadas em Abril. “Solo II”é o complemento da revisão da sua obra jazzística.Depois de vários anos de ausência da estética do jazz, António Pinho Vargas decidiu fazer a revisão da obra que espalhou por discos que foram fenómenos de vendas de Portugal, antes de se dedicar exclusivamente à composição de música contemporânea erudita (criou igualmente música para filmes e para teatro).

Pinho Vargas é um dos mais talentosos pianistas portugueses de jazz, daí que fosse de lamentar uma ausência tão prolongada. A sua música respira portugalidade por cada poro: dificilmente, um músico de outra latitude poderia aproximar–se da sua sonoridade. É também contemplativa, convida à reflexão. Esta investida em piano solo resulta da sua já longa vivência musical, que lhe permite recuperar o passado para, inequivocamente, enriquecê- -lo com uma nova abordagem.Destacar este ou aquele tema entre os 26 que nos oferece este duplo tomo não deixa de ser tarefa ingrata. O clima mantém-se constante, irrecusavelmente sedutor, não se tratasse sempre do mesmo pianista e (quase sempre) do mesmo compositor, mesmo quando são chamados Zeca Afonso (“Que amor me engana” I e II) e Bob Dylan (“The times they are a-chanching”). Poder-se-ia chamar a atenção para um momento de improvisação total – que é a matéria de que se alimenta o jazz – surgido durante a gravação, baptizado como “In between T&O”.

“Solo II” assume-se como peça fundamental para qualquer coleccionador e para os melómanos em geral.

Rui Branco, Jornal de Notícias, 6-11-2009