09 de junho, 2025
Memórias
dois artigos sobre Six Portraits of Pain e uma memória de um conceito
Agora que irá sair o CD Six Portraits of Pain | Oscuro da Artway (2025) fui, à boleia da crítica de Maria Augusta Gonçalves sobre aquela obra em 2008 "O pensamento e o seu choque", que refere o igualmente enorme texto de Augusto M. Seabra escrito para o disco anterior - fora do mercado há muito pelo encerramento de antiga editora Numérica já na década passada - "O compositor: sujeito e historicidade" no qual Seabra termina deste modo que já tinha esquecido (lamentavelmente) : "a possibilidade de reinscrição do sujeito como matéria da própria música".
Aqui o recordo (sentindo saudade):
"Com os textos de outros, em diálogo "ucrónico" com eles, o que Pinho Vargas delineia é uma possibilidade de reinscrição do sujeito como matéria da própria música. É um trilho pessoal e no entanto muito próximo de outros, em reconsideração dos paradigmas de inscrição do sujeito.
Não é fortuito que o compositor esclareça que o primeiro texto que escolheu e "de certo modo o mais importante porque (me) lançou a obra para a questão fundamental da liberdade do pensamento, da arte, da política e das diversas repressões que marcam as suas histórias" tendo sido escolhido em A Filosofia Crítica de Kant, obra em que Deleuze nos situa na "revolução coperniciana" do filosofo alemão: a faculdade de conhecer como legislador, o primado do sujeito, a sua emancipação. Kant, pois, em vez de Hegel e da hegemonização da história da música.
Há um disseminado entendimento da caducidade histórica de categorias de "sublime" e "belo", sobretudo pela experiência da arte moderna. Podemos-nos perguntar todavia, e cada vez mais, se depois de Duchamp não teremos ainda de reconsiderar Kant — alargando uma discussão que tem estado sobretudo presente nas artes plásticas designadamente com o Kant after Duchamp de Thierry Duve — e também de tentar uma inscrição e uma experiência que resistam para além da sucessão de trasitoriedades e dos horizontes acumulados de negatividade da "obra-processo"."
Augusto M. Seabra. 2008
Estes 2 artigos de Maria Augusta Gonçalvel no JL e de Augusto M. Seabra, estão agora no meu site.