Nos artigos relativos à morte de Augusto M. Seabra os críticos de cinema do seu jornal tomam a palavra: Vasco Câmara, Luis Miguel Oliveira e, noutro registo José Manuel dos Santos, todos escreveram já excelentes textos e até a sua proverbial memória foi já justamente referida. [Pouco mais de uma hora depois o de Teresa Villaverde, cineasta e amiga, escreve o mais belo no qual diz: “Para mim, o Augusto faz parte de um mundo que já não existe”, a propósito da sua convivência natural com artistas, realizadores compositores, músicos]. Mas espero que alguém do campo musical se disponha a recordar o seu enorme contributo na crítica de música contemporânea, o seu papel pioneiro de divulgador da corrente da “nova música antiga”, sobretudo nos anos 80, os seus numerosos artigos de crítica discográfica de todos os géneros, ficando para o final as suas perspectivas, muitas vezes críticas, das opções e programações culturais das grandes instituições musicais, incluindo Gulbenkian, São Carlos, CCB, Casa da Música, Culturgest e outras, nos ultimos 40 anos. Todos esses artigos, desde os anos 80 na Revista do Expresso, proseguindo no Público (a partir da sua fundação na qual esteve diretamente envolvido com Vicente Jorge Silva) e ainda noutros jornais onde colaborou nas últimas três/quatro décadas, constituem um património muito rico e mesmo incomparável, sem o qual, qualquer tentativa futura que venha a ser feita de reconstituição da vida musical e de discussão pontual dos seus problemas ficará irremediavelmente lacunar, se não houver uma consideração (agora) e publicação futura desejável, dos seus notáveis textos de crítica musical e de análise da vida musical. A sua actividade, em qualquer destas áreas, sofreu interrupções de alguns meses ou de alguns anos conforme a gravidade das várias maleitas que o afectaram. No entanto, tendo Portugal um enorme e quase insuperável historial de “desperdiício de recursos culturais”, venho apelar à consideração da sua crítica musical e à importância da sua preservação. Pode pensar-se que “agora está tudo online”.
É um pressuposto arriscado e provavelmente errado. Augusto M. Seabra era dotado de uma enorme capacidade de criar problemas a si próprio e, sendo polémico por natureza, criou também os seus detractores.
O que não está online é a actual disposição inter-pares dos diversos “mundos das artes” (H. Becker) e da sua actual presença /ausência muito desigual nos “jornais de referência” o que, aliás, nos faz lamentar ainda mais o seu desaparecimento.
Eu era seu amigo mas não é por essa razão que escrevo..
Visitei-o no lar em 2023 sim, porque era seu amigo. Tivemos uma boa conversa: sobre música, sobre Oscuro (2022) que ele me disse “ser um retrato da nossa condição”.
António Pinho Vargas
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