António Pinho Vargas

PT

/

EN

MENU

08 de março, 2022

Notas sobre A Impaciência de Mahler (1999)

4 peças para Orquestra

A Impacîencia de Mahler

4 peças para Orquestra.


Esta peça não tem nada a ver, strictu senso, com a música de Mahler o que, aliás é uma pena. Se o tivera melhor seria. O título está, sim, relacionado com a inquietude formal das Sinfonias de Mahler, aquela invenção e engenho que lhe permitia introduzir nas obras elementos heterogéneos surpreendentes. Aquilo que Adorno, no fio da navalha onde o seu pensamento melhor escorria, considerava, simultaneamente, o seu lado reacçionário e a sua melhor qualidade…

Persigo nesta peça essa minha obsessão contra os ventos: trabalhar com objectos musicais qualquer que seja a sua inserção na história da música; considerar que o discurso é mais importante que o vocabulário, que nisso reside a possibilidade de reinventar o passado com uma perspectiva nova e, finalmente, que essa é uma tarefa urgente.

Estas 4 peças para Orquestra tem até vários percursos claros: 1) da linha até ao acorde, passando pela oitava em toda a extensão do registo e um cânone complexo a 4 partes; 2) do acorde resultante da multiplicidade das linhas até aos acordes como entidades autónomas e 3) destes até ao coral final com vestígios esparsos das linhas cromáticas descendentes. Nesse sentido, será passível de uma descrição analítica eventualmente luminosa. Mas para mim a música não é a sua descrição analítica ou literária, mas a sua existência real no tempo, com todas as contingências de um hic et nunc irrepetível. Nesse sentido este texto nem sequer lhe é paralelo. É-lhe (in)diferente.