António Pinho Vargas

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23 de fevereiro, 2022

Sobre a Suite para Violoncelo Solo (2008)

Sobre a Suite para violoncelo solo

A minha primeira ideia para esta obra foi escrever um conjunto de microlúdios, peças muito breves, eventualmente capazes de conter um gesto e um mundo. No entanto, no decorrer da composição, as pequenas peças foram-se tornando gradualmente maiores e, por isso, a meio da composição já se tinha tornado claro que, dados os contrastes entre os andamentos mas também a sua duração variável, a forma da peça se aproximaria de uma suite. Não existe nesta obra, apesar do seu título, nenhuma relação com a histórica sucessão de danças, embora persista uma das componentes das suites em geral: a sequência de andamentos diversos com um determinado carácter. Para além disto há apenas a assinalar o facto de alguns pequenos motivos presentes nos primeiros andamentos surgirem novamente nos últimos como momentos da memória interna da peça ou como resquícios de um despedaçamento subjectivo do discurso.

Devo um agradecimento a Paulo Gaio Lima a quem mostrei a peça e me deu conselhos e confirmações muito úteis.

2008


A Suite para Violoncelo Solo (2008) começou pela ideia base de uma série de microlúdios, ou seja, um conjunto de peças muito curtas compostas a partir exclusivamente de uma figura ou de um gesto livres. Nos primeiros andamentos isso é patente. Durante o processo de composição na realidade foi-se verificando tanto um alargamento da duração como uma vaga ressonância de alguns motivos, de um certo tipo cadencial ou de outra ordem. A obra a compor-se a si própria. Nessa fase decidi não usar o pretexto inicial, o ponto de referência que desencadeou a composição e usar o termo pleno de ressonâncias históricas: uma Suite.  Não se trata de uma suite de danças, de modo nenhum, como era próprio do barroco, mas em todo o caso, uma Suite, enquanto sequência de peças mais ou menos curtas, em que cada uma realiza ou amplia uma figura inicial ou um gesto mais amplo, tudo isto sem considerar nunca à partida nenhum processo composicional nem sequer qualquer nota em particular: apenas a busca de uma invenção pura e subsequente reflexão/composição sobre as forças que cada uma desencadeou em si mesma. O último andamento é o único que tem um título: Encore. Para mim, este título tem uma carga irónica: na música de hoje raramente há "encores"; portanto tornou-se necessário e cínico colocar o "encore" dentro da obra. Um espécie de memória-compósita de Bach e Ornette, a entidade referencial conjunta mais inusitada. Se a presença da referência a Bach é fácil de identificável, a referência a Ornette implicaria um conhecimento da sua forma de improvisar que me parece aqui totalmente oculto, indecifrável. 

Devo um agradecimento a Paulo Gaio Lima a quem mostrei a peça e me deu conselhos e confirmações muito úteis.

2016


PS:

Paulo Gaio Lima tocou a Suite em 2018 na ESML e faleceu em 2021. Para honrar a sua memória preciosa e a amizade perene gostaria de lhe dedicar a obra. postumamente

In Memoriam

Suite para Violoncelo with scorefollow Nuno Abreu gravação Antena 2 estreia nas Caldas da Rainha 2008