11 de junho, 2025
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Sobre Nocturno/Diurno (sexteto de cordas)
(existe em versão de orquestra de Cordas)Nocturno/Diurno
Há semelhança do seu titulo, a peça apresenta duas músicas diferentes, ora sob a forma de uma alternância, ora sob a forma de uma sobreposição. Existem de igual modo dois tempos, um parado e outro “estriado”, para utilizar um termo de Boulez, se bem que aqui seja assumido um vocabulário completamente diferente.Uma estrutura bipolar desenvolve-se atravéz da predominância de certos intervalos, tendendo para uma sobreposição: na última secção da peça, ouvem-se as duas músicas simultâneamente.
No título a palavra “Nocturno” tem as suas tradições na história da música, enquanto a palavra “Diurno” não. A combinação de ambas sugere predisposições psicológicas diferentes, mas inter-permutáveis, do mesmo modo que o dia pode conter uma visão interior de um mundo escuríssimo e a noite desvendar momentos de surpreendente claridade.
A instrumentação não é estruturante da peça. A composição do sexteto de cordas foi abordada como se tratasse de um mesmo instrumento, ao contrário, por exemplo, de uma Partita para violino solo de Bach, a qual poderá conter polifonias extremamente complexas.
Na continuidade das minhas obras mais recentes, esta peça prossegue a minha reconquista de alguns elementos de música que conheço e que, por razões de ordem ideológica, tinha dificuldades em formalizar. Em “Monodia”, um quarteto de cordas, trabalhava uma simples sucessão horizontal de notas. Em “3 Quadros para Almada” para 10 instrumentos usei ritmos “triviais”, (do modo que hoje, em música, um ritmo poderá ser considerado “trivial”. Uma colcheia com ponto semi-colcheia é hoje tão “trivial” como uma quiáltera de sete, das quais só tocam as duas primeiras e a quinta).
O uso banaliza os objectos. Não há objectos superiores a outros.
Em termos musicais, as condicionantes históricas exercem-se sobre as gramáticas e não sobre os objectos.Nesta peça, além de simples melodias e de ritmos “triviais”, decidi usar desde o início escalas diatónicas, por longos anos banidas das linguagens contemporâneas.
Encomenda da Câmara Municipal do Porto
1994
(estreia pelo Sextuor L'Artois de Lille, na Igreja de São Bento da Vitória, 1994)