Poetica dell’extinzione

Secundo Mikhail Sergueievitch

para flauta e quarteto de cordas

 Na primeira peça que escrevi em 1983 para flauta solo utilizei uma série de Shoenberg (opus 26) e um processo de encadeamento serial suficientemente esclarecedor: o intervalo de encadeamento foi a oitava, em princípio, o menos aconselhável ou até o proibido!

Mesmo se a anti-teoria era frágil a peça fez-se. Percebi mais tarde que a prática relativamente frequente nas últimas décadas, de recorrer a material utilizado anteriormente, como era o caso, tinha a ver, como com um desejo de “anonimato” do compositor face às virtualidades do sistema adoptado - investido de propriedades superiores que assegurariam a qualidade da obra e a justeza da sua posição histórica - e também com a necessidade de interrogar o próprio conceito de material.

Nesta peça, pensei voltar à mesma série, mas optei por usar separadamente cada um dos hexacordes, portanto, sem pensar na complementaridade cromática permanente.

O título tem uma referência política implícita. Apesar da ausência, nos últimos tempos, de reflexão teórica sobre as relações entre a arte e a política, julgo que a incrível aceleração da história recente, poderá produzir a breve trecho um desabamento da política sobre a arte e a sua “autonomia”.

Poetica dell’extinzione (poética da extinção) secundo Mikhail Sergeievitch, encomenda da Oficina Musical, foi composta em 1990 e revista em 1992. É dedicada ao maestro Álvaro Salazar.

António Pinho Vargas