Notebooks para ensemble.

Sempre foi em cadernos (moleskine) que escrevi as minhas notas sobre tudo e mais alguma coisa, especialmente em fases de busca ou de interrogações. Tenho alguns cadernos que nunca poderão ser publicados, com textos, desenhos, citações ou pensamentos dispersos. Na recente entrevista a Luciana Leiderfarb (no Expresso) afirmei que me tinha tornado um colecionador: “Vou retirando de outras peças minhas aquilo de que preciso para as novas. Um ataque, um gesto, uma nota, que me interessam noutro contexto. Componho usando aqueles materiais”. Os cadernos – que a certa altura tive de começar a numerar – são o objeto no qual se guarda aquilo que se coleciona. No caso desta obra usei alguns materiais de obras minhas e alguns outros de obras de compositores que referencio no índice dos três andamentos da partitura sob a forma de dedicatórias: U.Chin, W.Rihm e G.F.Haas. Se Rihm está presente de muitas maneiras no meu trabalho desde 1991, Haas e Chin são referências mais recentes e talvez surpreendentes (embora G.Ligeti paire por cima dos dois). Em última análise tive de voltar a estudar. As minhas obras das quais usei materiais são Onze Cartas (2001) e Oscuro (2022). Esses materiais tanto podem ser alargados como ínfimos. Podem ser reduzidos a conceitos ou terem a categoria da transcrição ou mesmo a da dissolução. Desse tipo de trabalho tento obter um discurso musical do qual espero que possa emergir uma expressão.

Esta obra é dedicada a Raúl da Costa, António Jorge Pacheco e Pedro Amaral companheiros de percursos e dificuldades.

António Pinho Vargas, Junho 2024

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