Sobre Overtures and Closures
A proposta que me foi feita por Guimarães Capital Europeia da Cultura para compor uma Abertura mereceu-me a satisfação natural inerente e provocou-me inicialmente algumas dúvidas. A dúvida é sempre um bom ponto de partida. As Aberturas, que continuam a ser muitas vezes as peças iniciais dos concertos, são, nas programações tradicionais ligadas ao cânone musical europeu, habitualmente preenchidas com aberturas de óperas dos séculos XVIII e XIX, e normalmente são secções nas quais se apresentam os temas que vão ser usados nas óperas que seguem. Neste caso, não havendo ópera que se siga, comecei a trabalhar na peça desde logo com a ideia de que, se teria de haver “Abertura”, também deveria existir qualquer coisa como um fecho, um final, um encerramento. A dificuldade patente de encontrar essa palavra em português levou-me ao título em inglês que acabei por escolher. A peça está dividida em dois andamentos bem distintos e duas subsecções nas quais cada uma se subdivide. É constituída por dois universos sonoros contrastantes, no carácter, no tempo e nas atitudes globais que presidem às músicas: o título está no plural portanto esta peça são várias como poderia dizer o poeta. No final, constituem uma unidade sensorial, não sei porque mistério. Verificou-se como que uma estranha forma poética de encontrar uma solução na própria resistência do compositor à ideia inicial e a resposta que foi capaz de produzir, na sua filosofia privada, que perfilha já há longo tempo, da obrigatória liberdade criativa, produzida algures entre a razão e a intuição – categorias de Kant que estão sempre presentes nas artes, como na vida – da busca de uma fulgurância eventual e na total consciência da contingência inerente a todo e qualquer ato de criação artística.
António Pinho Vargas, Outubro de 2012.
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