Sobre Stabat Mater

Depois da proposta que me foi feita em 2015 pelo Coro de Pequenos Cantores de Esposende, escolhi, entre as várias hipóteses colocadas compor um Stabat Mater. Antes disso porém tive de fazer algumas perguntas sobre a escrita para as vozes brancas, os registo o grau possível de contraponto, etc. Apesar de ter escrito para o Coro Gulbenkian e Orquestra, Judas (2002), Requiem (2012) e Magnificat (2013), todo um diverso carácter, uma especificidade, me obrigava a tal cuidado. Helena Venda Lima deu-me todas as informações e conselhos necessários, o que lhe agradeço.

O segundo desafio, escolhido o Stabat Mater implicava, para cumprir a duração prevista, uma escolha do texto. Tal como nas peças anteriores foi o texto, muito belo, que conduziu a composição. Das muitas obras que existem na história da música ocidental, verifica-se que o texto, longo, apresenta grandes variações na escolha entre os vários compositores: Palestrina, Pergolesi, Scarlatti, Vivaldi. Haydn, até Rossini e Dvorak e outros. O texto original é um hino do século XIII e a sua versão mais corrente, Stabat Mater Dolorosa, tem como tema o momento da descida da cruz de Jesus, na presença e sofrimento de sua mãe. Conhecendo o efectivo do Coro a 4 partes e a sua qualidade, que pude constatar nos discos gravados com obras de colegas meus, tratava-se para mim de seleccionar os momentos do texto. Optei pelos 7 iniciais e o último que tem um carácter conclusivo.

O terceiro desafio e talvez o momento-chave, na minha opinião, residiu na escolha dos instrumentos que conjuntamente com o Coro, constituem uma junção, tanto quanto sei, nunca usada: Coro, violino e piano. A estrutura formal da peça segue naturalmente os tercetos, intercalados ou não por interlúdios de piano e violino (ou apenas um deles) de importância variável e de acordo com a ordem original do Hino até ao VII, sendo o VIII antecedido do último Interludium. Este Interludium, o mais longo, marca, a interrupção crucial dos primeiros textos ligados à descrição da tristeza da Mãe (I a VII) e o VIII no qual se configura já um afastamento da dolorosa descrição do evento, para uma fala reflexiva do próprio autor do texto sobre a sua aspiração ao Paraíso e à Gloria post mortem, no Além.

Espero ter conseguido responder de forma satisfatória aos 3 desafios que esta obra me colocou. O gosto de a ter feito ninguém me pode tirar.

António Pinho Vargas, Junho de 2016

Coro de Pequenos Cantores de Esposende, Helena Venda Lima
http://www.mic.pt/dispatcher?where=3&what=2&show=0&edicao_id=10331&lang=PT