Quatro ou cinco movimentos fugidios da água, Rui Pereira

Rui Pereira, in Público
 
Se a música, ao contrário de outras artes, representa sempre um instante singular e irrepetível, a primeira audição mundial de uma obra tem um impacte completamente diferente no ouvinte. Longe de quaisquer referências interpretativas, ele constrói a sua própria memória do instante mesmo que por vezes recorra a lugares de referência comuns. “Quatro ou cinco movimentos fugidios da água” para trio de clarinete, violoncelo e piano, de António Pinho Vargas, foi uma encomenda do Festival Internacional de Música da Póvoa do Varzim. Ao longo dessa primeira audição fui acompanhando o mundo sonoro criado por Pinho Vargas e, depois daquele que foi, a meu ver, o primeiro movimento desta peça, segui-a com profunda emoção. Não posso afirmar que recorra a técnicas de composição completamente inovadoras nem pretendo tão pouco rotulá-la, mas esta é uma obra de escrita consistente e muito bonita.