Viola de Arco e Trompete nas Ruínas do Carmo – estreia do Concerto para Viola, Cristina Fernandes, Público

Estreia de Concerto para Viola e Orquestra Cristina Fernandes dia 17-9-2016 Público

Crítica no Público Concerto para Viola e Orquestra

“Foi no belíssimo cenário das Ruínas da Igreja do Carmo que se deu início na quinta-feira ao Festival Cantabile, organizado pelo Goethe-Institut e contando com a direcção artística da violetista alemã Diemut Poppen. As relações da música com o sagrado, num sentido lato, servem de fio condutor a esta 7.ª edição, cujo programa de abertura combinou a música barroca de Vivaldi, Telemann, Handel e J. S. Bach com incursões nos séculos XX e XXI através de Paths, para trompete solo, de Takemitsu, e da estreia mundial do Concerto para Viola e orquestra, de António Pinho Vargas, uma encomenda de Diemut Poppen, que foi também solista nesta obra marcada por uma intensa expressividade e inquietude.[…]

Com algumas passagens no limiar do silêncio ou formadas por texturas delicadas e sons etéreos, como os que decorrem dos harmónicos do instrumento solista, o Concerto para viola de arco, de Pinho Vargas, ressentiu-se com os planos sonoros intrusivos. Espera-se que seja possível reouvir em breve esta obra noutro local até porque, não obstante as contingências, ficou claro que tem fortes possibilidades de entrar para o repertório dos violetistas pela forma como tira partido dos múltiplos recursos expressivos e de colorido tímbrico do instrumento.Emerge a “voz” de uma viola de arco que canta em tom de lamento ou meditação introspectiva através de maleáveis linhas melódicas, mas que assume também momentos de interrogação e fúria através de elementos rítmicos incisivos e outros efeitos sonoros num balanço bem conseguido com a orquestra, na qual o naipe da percussão tem um relevante papel.

Com o [sub]-título O Livro de Job: Leituras, a composição subdivide-se em 4 andamentos (“Abertura: Fé”; “Dúvidas”; “Lamento”; “Dúvidas e fúrias”) que pretendem ser meras metáforas e não descrições programáticas, mas que exercem forte poder sugestivo no ouvinte. Com um domínio técnico e artístico de primeiro nível, Diemut Poppen defendeu a obra com brio, parecendo identificar-se de perto com a sua estética e linguagem, acompanhada de forma consistente pela Orquestra Gulbenkian, dirigida porJan Wierzba.” […]

[…]Cristina Fernandes dia 17-9-2016