António Pinho Vargas

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Sobre Quatro ou cinco movimentos fugidios da água 2001

Quatro ou cinco movimentos fugidios da água

para clarinete, violoncelo e piano

 

Antes de começar a compôr o Trio ouvi os trios de Brahms e Beethoven para me colocar na sonoridade desta peculiar formação instrumental. Admirei as obras, especialmente a de Beethoven, que já não ouvia há muito tempo, mas percebi claramente que, para esta obra, as referências aos clássicos estavam-me vedadas. Enquanto, por exemplo nos meus dois ciclos de canções de António Ramos Rosa de 1995 e Albano Martins de 2000, a sombra de Schubert e Schumann não tinha constituido um peso mas antes uma leveza. Neste caso o caminho tinha de ser outro. Cada peça reclama, sem dúvida, o seu modo de ser, o seu universo. Por outro lado os " Quatro ou cinco movimentos fugidios da água" estão ligados, pela proximidade cronológica, à obra para piano solo "Holderlinos". Trata-se de uma peça sobre as variações de movimento que a água do mar proporciona, desde que haja disponibilidade para olhar para ele, da aparente imobilidade profunda dos fins de tarde, até à agitação impresionante das tempestades. Não fiz nenhum estudo das periodicidades fractais das marés. Penso que a arte não tem como objecto a natureza mas a memória dela ou a própria memória da arte. 


António Pinho Vargas, junho de 2001

Trio Interlúdio, Recital dos Galardoados no PJM 2023 na Fundação Gulbenkian, RTP João Sousa, Leonor Claro, Martim Pereira