Nuno Catarino, Público, 4 de Julho 2008

Magnífico regresso

O pianista regressa ao jazz com uma regravação solitária dos seus standards.
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António Pinho Vargas está de regresso. Pegando nas suas velhas composições aventura-se em regravações em formato piano solo. O que há de novo? À partida nada. E, na verdade tudo.
(…) Os velhos temas transfiguram-se, concentram-se na essência da melodia e as improvisações de Pinho Vargas (por vezes contidas, outras vezes alongadas) são veículos de uma rara luminosidade.
(…) E se a linguagem é um factor importante na análise desta música, há que reconhecer que as composições serão ainda mais determinantes na construção da individualidade que caracteriza esta música. Pinho Vargas é um compositor com um sentido da melodia certeiro e, entre os dois discos que constituem este \”Solo\” são raros os temas que não têm o poder de entusiasmar. É verdade que isto não é novidade para ninguém mas, particularmente os dois temas com dedicatória a músicos – \”Tom Waits\” e \”June\” (Tabor) – são de uma impressionante precisão pop.
(…)
Talvez só possamos avaliar a dimensão deste projecto com a audição consecutiva dos quatro CD’s, espécie de \”obra completa\” revista. Para já ficamos a conhecer uma parte dos standards Pinho Vargas em novas versões próximas da imortalidade.
Com este brilhante regresso o pioneiro do jazz português reclama um merecido lugar no trono e vem lembrar-nos que, antes de Bernardo Sassetti e de João Paulo, há um excelente pianista com que temos de (voltar) a contar.

Nuno Catarino,
Público, 4 de Julho 2008